
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) decidiu, nesta sexta-feira (12), manter suspensas as operações da Noar Linhas Aéreas. A auditoria realizada pelo órgão identificou indícios de descumprimento de requisitos e procedimentos referentes às anotações técnicas no diário de bordo, aos registros de manutenção e aos limites de horas mensal e trimestral dos tripulantes previstos na Lei do Aeronauta.
Os resultados da auditoria, iniciada em 17 de julho, foram comunicados à Noar e anexados ao processo administrativo de fiscalização instaurado para verificar se a companhia se mantém de acordo com os regulamentos vigentes. A empresa aérea recebeu da Anac o prazo de 30 dias para prestar esclarecimentos e justificativas.
Em nota, a Anac ressaltou que esse processo administrativo não tem relação com as investigações referentes ao acidente com o bimotor da Noar que caiu em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, no dia 13 de julho, e resultou na morte das 16 pessoas que estavam a bordo. De acordo com o órgão, as investigações da tragédia são “independentes da Anac e continuam em andamento sob responsabilidade do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Aeronáutica”.
NOAR
Por meio de nota, a assessoria de comunicação da Noar disse que a empresa está preparando os documentos solicitados pela Anac, a serem anexados ao relatório da Agência e, que aguardará o resultado final do processo administrativo. O documento disse ainda que, somente depois dessa etapa, a Noar vai se pronunciar publicamente.
CADERNO DE BORDO
Um caderno obtido com exclusividade pelo "Fantástico" mostra relatos de pilotos da Noar sobre problemas de manutenção nos aviões da companhia. Levado junto com o diário de bordo, o caderno traz diversos registros escritos por pilotos e copilotos, relatos feitos pela tripulação sobre situações consideradas anormais e que aconteceram a bordo.
A reportagem do "Fantástico" contou 75 anotações no intervalo entre 3 de novembro do ano passado até 9 de julho deste ano. Alguns dos registros foram feitos pelo piloto Rivaldo Cardoso, que morreu no acidente aéreo ocorrido em Boa Viagem no último mês de julho. Ele enumerou cinco tópicos, no dia 18 de dezembro, escrevendo que a potência do motor teve que ser mantida em 60% para a temperatura não atingisse o limite na decolagem.
O piloto relatou a ainda existência de luzes queimadas, diz que o fone do comandante não funciona, que durante uma decolagem de Aracaju teve que reduzir a potência para 50% para manter a temperatura no limite e conclui sugerindo que não se disponibilize a aeronave antes da verificação do problema de elevação da temperatura do motor 1. “A decolagem com 16 passageiros de Maceió para o Recife com torque, ou potência, de 50% não é aconselhável”, disse no texto.
Baseada nessas informações, a Anac decidiu suspender cautelarmente as operações da Noar, para apurar se a empresa adotava práticas que podem ferir o Código Brasileiro Aeronáutico. "Essas anotações deveriam constar no livro de registro de voo, jornada e ocorrências da aeronave e de seus tripulantes (diário de bordo)", informou o órgão.
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